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Respostas a tudo - 24 set 2023





No momento que vos escrevo este texto, passou já um bom pedaço de tempo desde a última vez que escrevi para este livro. 

Tenho tido algumas experiências, deveras interessantes, e que quero partilhar aqui hoje.  Para vos dar um contexto, hoje é dia 24 de setembro e estou a poucas semanas de me mudar para Bali.  Por quanto tempo estarei aí? Não faço a mais pequena ideia.  

Estou sentado aqui num café em Barcelona, com o barulho da multidão que vai, que vem e que passa. Mas por entre esses barulhos encontro silêncio.  Uma paz.  Calma. 

Assim tenho estado a maior parte do meu tempo desde que fiz o meu último retiro. Há dias que me parece escapar, mas rapidamente retomo este estado quando me pergunto porquê.  

Faço as perguntas a mim mesmo e as respostas parecem aparecer, por mim mesmo, ou por eventos externos.  

Quão bom é saber que podemos encontrar respostas a tudo?  Uma espécie de inteligência artificial mas mais sofisticada e com uma margem de erro menor que a atual, que combina o nosso ser com o universo.

Fui para o retiro sem expectativas. Sem intenção.  Desfrutei da viagem, como não? primeira vez que ia com o meu novo carro a valência. Pensando que tinha sido justamente aí que me tinha surgido o pensamento:  “ quero poder conduzir um Lamborghini, o que preciso aprender e o que preciso fazer em ordem de o conseguir? “

Aí estava eu, na auto estrada, com um sentimento de gratidão bem profundo e com um sorriso de orelha a orelha e uma sensação de liberdade brutal que é difícil colocar em palavras. 

Cheguei ao local e ali estavam algumas caras conhecidas e amistosas, recebendo-me de braços abertos e abraços demorados.

Há sempre uma conversa que parece ser de ocasião, mas que na verdade não tem nada de casual. Explicava eu ao Ariel, a pessoa que coordena todo o retiro:


- Estava em Lisboa mas não estava feliz.  Tudo era cinzento, o local onde estava era estranho e que me transmitia uma sensação/ vibração menos positiva.  Acordava triste e só me sentia bem quando ia treinar.  Tudo o resto do dia era super deprimente.  O ambiente à minha volta influencia muito a minha percepção, a minha vibração e a forma como encaro a vida. 


- Está tudo bem em ter consciência disso e buscar as coisas que te fazem bem. Tu tens feito isso a vida toda e olha o que te trouxe. Mas.. mais do que sermos influenciados por um ambiente é a energia que podemos levar a ele.  A luz que se pode trazer à escuridão, a esperança que se pode trazer ao desespero.  Sermos o que influencia e não o  que se deixa influenciar.  - disse Ariel  


- Que pensamento bonito - disse eu - seria algo digno de reflexão 


A conversa avançou e ele perguntou-me pelos gatos.


- Os gatos estão em casa do pai do meu melhor amigo, estão livres, têm muito espaço, carinho e ar puro para respirar. - e após dizer isso, uma parte de mim não pôde disfarçar a tristeza.   


- O que é isso que estás a sentir ? - perguntou ele.


- Culpa. Uma parte de mim sente que os abandonou, mas não os queria fazer passar por mais uma viagem de 12 horas numa situação em que nem eu sabia onde ia ficar. E depois tendo em conta a casa onde estava, se pensasse em levá-los para lá, iam estragar tudo.  São meio malucos.  Mas poxa, tenho saudades deles.  De tal forma que evito falar sobre o assunto ou perguntar ao Carlos como estão.  A última vez que os visitei saí destroçado de lá. 


- Isso é a tua mente a falar. Que tenta explicar tudo.  Concentra-te nesse sentimento de culpa, de onde vem? Que palavra te vem à mente?


- Abandono - respondi eu


- Em que momento te sentiste abandonado? Qual o primeiro pensamento que te vem à cabeça?


- O que me vem à cabeça foi o momento em que a minha mãe adoeceu e eu tive que ir para casa dos meus tios. Mas eu não fui abandonado, eu fui para lá porque o meu pai não poderia tomar conta de tudo e a minha tia mostrou-se disponível para ajudar. 


- Mais uma vez é a tua mente que me está a responder. Tu hoje entendes isso e sabes que é lógico, racional, a mente adora isso. Mas será que esse “nino” interpretou dessa forma ?


E a conversa terminou ali que entretanto chegaram mais pessoas e eu não tinha uma resposta preparada, na verdade nunca me tinha  questionado tal coisa. Nem me lembrei de tal situação durante muitos anos, muito menos atribuído qualquer tipo de relevância. Mas a imagem de mim a chorar na cama, preocupado com o que iria acontecer à minha mãe, ficou bem presente na minha cabeça.

O sol já se escondia quando iniciamos o ritual da toma.  Bebi o copinho com a bebida intragável ( sério, o gosto é o pior de toda a experiência ) e deitei-me.

Parecia ter passado uma eternidade e nada acontecia.  Parecia que toda a gente já tinha entrado em processo e já tinham saído da sala. Uns tinham ido dormir, outros estavam lá fora.  E eu ali, sem conseguir entrar.  Resolvi então levantar-me do colchão e fui comer algo.  Por norma estes retiros devem ser feitos com jejum, então tinha estado desde as 3 da tarde sem comer e deviam ser agora 4 da manhã.  E como tinha acontecido outras vezes, depois de comer, começo a sentir a planta a “fazer efeito “.  

Veio de repente uma sensação de ansiedade e de medo: "Vou-me deitar no colchão que vou entrar em processo" - pensei eu



Ao deitar-me, esta sensação de medo e ansiedade estavam cada vez mais intensas.  “ - E se agora acaba a música, toda a gente termina o processo e eu ainda aqui, sem controlo de mim mesmo?” - pensei eu.


E o que vos contar de seguida era o diálogo que tinha com a planta:


- Porque isto me está a dar tanto medo? 

- Queres ver mais de perto?

- Uff não sei, isto talvez seja demais.

- Ok, se quiseres posso te mostrar as coisas bonitas que já tiveste oportunidade de ver noutros retiros,  mas porque estás aqui? É isso que queres ver?

- Não, mostra-me então.


E o medo amplificou.


-Porque estás a sentir isso? É medo de que?  - pergunta a planta 

- Abandono. Eu fico aqui sozinho e toda gente vai embora.  Fico entregue a mim mesmo. 

- Hmm interessante. Querer ver de mais perto?

- Não sei.

- Eu mostro-te as coisas bonitas então. Escolhe:

- Não , vamos a isso. Mostra-me tudo que preciso ver:


E para não vos massar com detalhes que seriam complicados de explicar, resumo: 

Foi me mostrado com muita intensidade todo esse medo do abandono. Foram-me mostradas situações em que senti de forma intensa.. Era mais pequeno e interpretei as situações dessa forma. Embora não correspondam à realidade, era o que tinha sentido e de uma forma intensa. 

Foram-me mostradas situações em que eu mesmo repliquei esse sentimento a outros. As pessoas que abandonei por medo de voltar a sentir isso, foram algumas.   Fez-me sentir a  dor que essas pessoas sentiram também.  Toda essa culpa vinha e acabou por ser libertada em forma de choro.  

Chorei, chorei e chorei.  Era um choro de culpa que passou a um choro de alívio/consolo.  O alívio de me ver livre de um peso que não me apercebi que carregava. 

Houve mais coisas que me foram mostradas. defeitos que tinha e que poderiam ser melhorados.  Eu ia perguntando por situações específicas e outras hipotéticas de como eles se manifestavam e de como poderiam melhorar.


- Há algo mais que precise ver hoje? - E não houve resposta 


Então surgiu esse silêncio, essa paz. Não tinha fome, não tinha sono, não tinha falta de nada, não precisava de ver o tlm, não pensei em trabalho.  Sentia-me completo.


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